“Um coração do tamanho do mundo
“Era uma vez” - Era uma vez?! Não pode ser, está completamente
fora de moda e nem sequer combina com o que vos vou contar! Deixem-me um
minuto, só um minutinho para imaginar... é que ao contrário do que possam
pensar, um escritor não carrega num botão denominado “Enter” e aparece o
resultado! Bem, acho que assim está melhor:
“Numa terra onde reinava a diversão, a moda, e onde, mandava a
regra, todos tinham olhos azuis, cabelos loiros e roupa de marca, vivia um
pobre e infeliz sujeito de olhos cor de chocolate e cabelos negros como carvão.
Mas porque escolhi adjetivos tão tristes para caracterizar uma pessoa
normalíssima? Porque esta é a mais pura das realidades: desde há anos que os
habitantes o faziam sentir-se como um estranho, tão poluídas estavam as suas
cabeças com dinheiro e ideias egoístas. Mas se isto já é mau imaginem que, há
uns anos largos, lhe tinham crescido duas asas que o transportavam para LONGE
cada vez que alguém se aproximava dele. O que fazia, segundo os meus cálculos,
com que os seus olhos cor de chocolate não vissem ninguém, com que os seus
cabelos negros como o carvão esvoaçassem num céu deserto e com que o seu
coração se sentisse simplesmente só…
Noutra pequena terra passava-se, sem ninguém saber, algo semelhante.
Nessa terra muito, muito pequena, só habitavam senhores e senhoras intelectuais
e com um único objetivo na vida: trabalho, trabalho e trabalho, de todas as
formas e feitios! Acontece que no meio de todas estas personagens tinha chegado
ao mundo, ou melhor, à pequena aldeia que, convém dizer, não fazia fronteira
com qualquer outra vila ou país, uma criança. Nada de especial, só uma criança!
Relembro-vos agora que uma criança precisa, para ser feliz, de diversão, amor e
atenção. Ora aí é que estava o problema: sendo a única a faltar à regra do
trabalho contínuo, era vista como uma estranha e um ser perturbador.
Chegou o dia em que, tanto no mundo da moda e da diversão como na
longínqua e pequena aldeia, os dois seres ímpares e diferentes, fartos de tanta
humilhação, escolheram, por mero acaso, o mesmo caminho para partirem em
direção a outro lugar.
Depois de meses de caminho, a pobre criança seguia o seu rumo,
sempre na esperança de encontrar alguém. Certo dia, viu um vulto e nem queria
acreditar… Correu e abraçou o sujeito das duas asas, sem olhar para os seus
olhos ou para a cor dos seus cabelos. Era alguém e isso bastava! Ao mesmo tempo,
o homem não podia acreditar no que sentia, sabia finalmente o que era um
abraço… Foi assim que se venceu o encanto e as suas asas desapareceram
lentamente para dar lugar a um coração do tamanho do mundo."
Bárbara, 6º6
2 comentários:
E ASSIM SE CRESCE, VOANDO! BONITO TEXTO!
Já tinha saudades dos teus textos.
Adorei. Continua a escrever e a deliciar-nos
com os teus textos.
Profª Lígia Pereira
Enviar um comentário