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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

ACTIVIDADE DE ESCRITA CRIATIVA 9 - Textos com animais dentro



Gostas de animais? Claro que sim! Tens um animal de estimação ou gostavas de ter? Preferes os animais selvagens ou talvez até os dinossauros? Será que conseguimos dar-lhes vida dentro de um texto? Vamos lá experimentar!

Não sem antes lermos, como vem sendo hábito, alguns textos de autores portugueses que nos possam servir de inspiração:


Ode ao gato 

Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros

e a regra elementar do destino.


 José Jorge Letria




Era uma andorinha branca
que me batia à janela                                          
e contente anunciava
que chegara a primavera,
ou era eu que sonhava?
Eugénio de Andrade





No tempo em que os animais falavam..., de António Torrado, aqui: http://www.historiadodia.pt/pt/Historias/07/13/historia.aspx



 
«(…) Tem sede, muita sede, mas ali não há sinal de água. O homem olha para trás e vê que metade do céu está já coberto de nuvens. O sol ilumina o bordo nítido de um grande nimbo cinzento que avança.
É nesse momento que ouve ladrar um cão. O cavalo estremece de nervosismo. O centauro lança-se a galope entre duas colinas, mas o homem não perde o sentido: seguir na direcção do sul. O ladrar está mais perto, e ouve-se também um tilintar de campainhas e depois uma voz falando a gado. O centauro parou para se orientar, porém os ecos enganaram-no e, de súbito, num terreno baixo e húmido inesperado, aparece-lhe um rebanho de cabras e à frente dele um grande cão. O centauro estacou. Algumas das cicatrizes que lhe riscavam o corpo, devia-as aos cães. O pastor deu um grito espavorido e largou a fugir, como louco. Chamava em altos berros: devia haver uma povoação ali perto. O homem dominou o cavalo e avançou. Arrancou um ramo forte de um arbusto para afastar o cão, que se estrangulava a ladrar, de fúria e medo. Mas foi a fúria que prevaleceu: o cão ladeou rapidamente umas pedras e tentou apanhar o centauro de flanco, pelo ventre. O homem quis olhar para trás, ver donde vinha o perigo, mas o cavalo antecipou-se, e rodando veloz sobre as patas da frente, desferiu um violento coice que apanhou o cão no ar. O animal foi bater contra as pedras, morto. Não era a primeira vez que o centauro se defendia assim, mas de todas as vezes o homem se sentia humilhado. No seu próprio corpo batia a ressaca da vibração geral dos músculos, a vaga de energia que deflagrava, ouvia o bater surdo dos cascos, mas estava de costas voltadas para a batalha, não era parte nela, espectador quando muito.
(…)»
in José Saramago, Objecto Quase






«Alguém falou da tristeza e do vazio do olhar dos animais. Vi a tristeza, em certos momentos, no olhar do cão. A tristeza de quem quer chegar à palavra e não consegue. Mas não vi o vazio. O vazio está talvez nos nossos olhos. Quando por vezes nos perdemos dentro de nós mesmos. Ou quando buscamos um sentido e não achamos. O cão sabia o sentido, o seu sentido. E nunca se perdia.»

in Manuel Alegre, Cão como nós


1 comentário:

Anónimo disse...

Um bom ponto de partida para quem gosta de voar! Basta deixar crescer as asas!
Bom voo!