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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

No dia 26 de Novembro, decorreu, na biblioteca da nossa escola, uma sessão de sensibilização sobre Escrita Criativa, dinamizada pelo professor João Aido. Nessa sessão, de carácter eminentemente prático, os professores inscritos ocuparam o lugar dos alunos, aceitaram os desafios de escrita e entregaram-se ao prazer da palavra. Deixamo-vos alguns dos resultados dessa tarde de partilha e aprendizagem.





1. RECRIAÇÃO DE POEMAS
Tendo por base um poema do escritor dinamarquês Henrik Nordbrandt, que só foi lido na íntegra a posteriori.

está a chuviscar um bocadinho                                               
mas não tanto que se possa                                                 
chamar a isto mesmo chuva                                               

e vamos ficando molhados lentamente                              
mas não tão completamente                                                
que não possamos continuar a falar alegremente                 

e um bocadinho apaixonados                                             
mas não tanto que isso nos impeça                                            
de dizer: “Amo-te”.                                                           

Lígia Pereira



está a chuviscar um bocadinho                                               
mas não tanto que se possa                                                 
chamar a isto mesmo chuva                                               

e vamos ficando molhados lentamente                              
mas não o bastante para esquecermos
os momentos de loucura no deserto                 

e um bocadinho apaixonados                                             
mas não tanto que possamos
transformar em tempestade o que sonhamos

Paula Sexauer


O texto original:

está a chuviscar um bocadinho
mas não tanto que se possa
chamar a isto mesmo chuva

e vamos ficando molhados lentamente
mas não tão molhados que valha
a pena falar disso

e um bocadinho apaixonados
mas não tanto que se possa
chamar a isto mesmo amor

Henrik Nordbrandt
                                                     


2. LITERATURA DEFINICIONAL

Pegue numa receita e num dicionário. Procure no dicionário a definição de cada palavra e construa um novo texto. Leia o resultado e divirta-se!

Pequeno Crustáceo decápode em Aspic

Preparar pela acção do fogo os pequenos crustáceos decápodes em substância líquida incolor, impregnada de sal durante 10 sexagésimas partes de uma hora e em seguida transpor imediatamente por substância líquida, incolor e inodora, que não tem calor, para ter a possibilidade de lhes tirar a casca com mais facilidade.
Depois de tiradas as cascas, juntá-las a uma espécie de caldo espesso composto de azeite, vinagre, sal, pimenta, mostarda e ovos batidos e permitir que se torne frio.

Lígia Pereira e Paula Guerreiro

A receita original, caso não tenham percebido bem...


CAMARÃO EM ASPIC
 Preparação
Cozer os camarões em água salgada durante 10 minutos e em seguida passar logo por água fria para os poder descascar mais facil­mente.
Depois de descascados misturá-los com molho de maionese grosso e deixar arrefecer.




Pastel de barbatimãos-de-folha-miúda de milheiral à ária de Cabo Verde

Amalgamam-se as barbatimãos-de-folha-miúda e joeiram-se anexadas com a enzima e uma bagatela de sarcasmo. Afinfa-se a gordura com a blandícia, acasalam-se os galizos e empós a leiteira invertida com as barbatimãos-de-folha-miúda.
Almeja estufa abochornada.
Empós de algente alanha-se às lascas e ajunta-se lambugem.

Paula Catita e Paula Sexauer



Se quiserem experimentar, talvez seja melhor seguirem o original...

BOLO DE FARINHA DE MILHO À MODA DE CABO VERDE


Preparação

Misturam-se as farinhas e peneiram-se juntas com o fermento e uma pitada de sal. Bate-se a manteiga com o açúcar, juntam-se os ovos e depois o leite alternado com as farinhas. Quer forno quente.
Depois de frio corta-se às fatias e põe-se manteiga.





3. TEXTO RASGADO
O meu irmão rasgou-me o texto, professora... Um incidente de pouca gravidade! Basta pegar numa das partes... e imaginar o resto!

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor casto. Quanto ao
amor verdadeiro que há, estou farto de conversas e de teóricos de
serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos pela paixão. Isto não é um amor puro.
Incapazes de um gesto largo, de correr um verdadeiro risco de vida entre
telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá-lá”, longe
de compromissos, bananóides, borra-botas, malta tonta. Quem ainda se
apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a sábia dependência do amor.

Lígia Pereira e Paula Guerreiro

O texto original:

«Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadors do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?»

Miguel Esteves Cardoso


1 comentário:

a.s. disse...

Afinal, não há como passar pela "difícil" experiência da escrita para perceber como a criatividade é muito mais do que mera inspiração!